A Fase Mais Escura da Lua - Cura e Regeneração.
Esta fase acontece todos os meses durante os três dias que antecedem a próxima Lua Nova. E, porque essa próxima fase escura da Lua antecederá a festa de Rosh Hashanah, além disso, a sua configuração ficará ativa a partir do por do sol do dia de amanhã - 29 de Setembro de 2024, vamos nos aprofundar no seu significado. No passado, durante a ausência de luz da Lua os antigos viviam o espanto e o medo do seu abandono frente os movimentos celestes, porque durante a fase negra da Lua eles tinham que se submeter a um ciclo completo de escuridão e ausência de luz sem poderem ver as pessoas, animais, lugares e objetos, o que poderia representar um perigo iminente e desconhecido. Portanto, eles viviam submetidos aos ciclos solar e lunar, que pela importância e relevância passaram a ser cultuados como se deidades fossem. Assim começaram os mitos de grande parte das civilizações.
Com o passar do tempo e o aprimoramento no conhecimento astrônomico e astrológico, o culto à Lua deixou de ser de submissão para ser de adoração ao seu poder sobre os ritmos do planeta terra, dos mares, plantas e animais, além do ciclo interno do corpo das mulheres. Porém, além do período pela escuridão das noites sem luar se somava a fragilidade humana e o desconhecimento dos eventos naturais que estava inserido. Portanto, passou-se a um longo tempo durante o qual a humanidade vivia com temor desta fase lunar, quando passaram a lhe atribuir a negatividade que ocorriam em suas próprias vidas.
Como resultado, criou-se o mito de ser um tempo desafortunado e associado à serpente, que é um animal lunar e subestimado por grande parte das civilizações. A serpente, com seu poder de trocar de pele é associada à Lua pela renovação após uma aparente morte. Os antigos também diziam que suas tocas subterrâneas levavam ao submundo regido por Hades. Assim como os indianos diziam que seu movimento ondular manifesta a energia que sobe pela coluna vertebral chamada kundalini.
Na tradição dos calendários lunares, seus primórdios foram estabelecidos em um ciclo lunar de morte (ou encerramento) e renascimento (ou regeneração), pois a Lua sempre foi associada à imortalidade, mas passava por todos os ciclos cumprindo os ritos de purificação, que não representava o fim, mas uma pausa e a sua transmutação. “Na sua fase escura era a terra dos mortos, o receptáculo das almas entre as encarnações. Ela abrigava os mortos e os não nascidos, que eram um e o mesmo” (Mistérios da Lua Negra - Demetra George).
Na Kabbalah se aprende que a Lua é o recipiente por onde todas as energias cósmicas passam advindas do Universo/Criador, até nos alcançar no planeta Terra. A Lua é a marca do tempo, do calendário, aquela que informa o momento do plantio e colheita, dos inícios e dos términos. Quando caminhamos pelo mês de Elul e preparamos nosso próprio recipiente para um novo ano dentro do Calendário Lunar Judaico voltamo-nos para a Lua e observamos a sua fase, que nesses dias de escuridão nos pede um momento de profundo recolhimento neste final de preparação para um novo ciclo. Uma preparação que contou com os desafios do período, todas as restrições, os aspectos astrológicos, um eclipse lunar parcial e a busca constante para se alcançar a Teshuvah, Tzedakah e a Tefilah. Não é de se espantar se neste momento bater o cansaço (que pode ser imenso), mas a proposta é de uma caminhada extra, um esforço a mais, um último período de reflexão e transformação com o auxílio do deste momento onde a Lua está recolhida e nós nos juntamos à ela neste mais interior de nós mesmos. Um útero. O silêncio. O milagre. Pela cosmologia cíclica a fase mais escura da Lua é o tempo em que o impulso da vida vai ao seu mais profundo interior para se purificar, revitalizar e se regenerar.
Existem momentos em nossas vidas que de forma individual ou coletiva vivemos esse momento de solitude e escuridão. Podem ser dias, semanas ou até mesmo meses em que a energia desta fase da Lua está operando sobre nossas vidas. Essas são épocas de profundas transformações morte e renovação. Pela análise das progressões secundárias nos Mapas Natais, muitas das vezes se percebe que exatamente neste período mulheres engravidam ou passam pela menopausa e renovam suas vidas e de toda a sua família, assim como podemos falar de grandes passagens de entes queridos e mais velhos. A fase da Lua Negra também é o período que antecede o aniversário, que fala sobre o envelhecimento, a renovação, a revisão de velhas promessas, conquistas e perdas. Socialmente, fazemos isso na egrégora que antecede o Rosh Hashanah e se prepara para um novo ano.
Neste movimento incessante, onde a chegada no novo é inevitável e percebemo-nos pertencentes à um ciclo maior, mais forte e muito mais sábio dentro da natureza e espiritualidade, o momento é propício para uma reflexão da beleza, intensidade e oportunidade que os próximos dias nos proporcionam. Por se tratar de um encerramento de um ciclo, o exercício de liberação daquilo que nos prende e a abertura para o novo deve ser a força que nos move. Existe uma vibração em alta frequência sendo lançada pelo universo para que consigamos caminhar para esse momento de abandono e desprendimento de tudo aquilo que não nos cabe mais e uma força renovada em direção à uma nova vida. Aqui estamos limpando a matéria prima de nossas vidas para realizar nossos desígnios encarnatórios. Aqui vivemos um momento de cura e libertação. Importante que se tenha o coração tranquilo e a alegria em cada gesto e pensamento. A alegria é um código místico de profunda transformação que atrai pura energia.
Todas essas experiências psíquicas e espirituais foram se amalgamando em nossa coletividade ao longo dos tempos e foi-se traduzindo de acordo com os costumes locais e atualizados de acordo com as culturas e vernáculos. Hoje, o lado negro da Lua passou a ser um lugar de cura, salvação e profunda introspecção. Pois trata-se de um caminho de descida ao inconsciente e ao sossego da alma, de onde se acessa segredos e transformações possíveis somente quando se alcança esse lugar profundo. A Lua tem o poder, tanto de curar, quanto de regenerar. Mergulhe nesta profundeza e prepare-se para o novo que vai surgir!
